opinião

OPINIÃO: Produzir com responsabilidade social, menor risco à sociedade e ao ambiente

A tragédia de Brumadinho comove, suscita dúvidas e debates, causa revolta. Sucede à de Mariana, apenas quatro anos passados, com os mesmos ingredientes: rompimento de barragem de rejeito de mineração, grande empresa responsável, utilização de tecnologia menos custosa e mais arriscada.

A indignação dos brasileiros volta-se especialmente aos poderes públicos, cultura muito nossa: falha na fiscalização e no controle que o Estado deveria ter sobre tais empreendimentos. Ao mesmo tempo resmunga-se diariamente que o país tem exagero de regulamentos e exigências a quem queira empreender, sendo necessário tirar o Estado das áreas produtivas.

Falta cobrar da própria iniciativa privada a responsabilidade social e comunitária que vai condicionar as demais funções de cada empresa. Em relação ao consumidor, a empresa deve fornecer produtos ou serviços de boa qualidade e justo preço. A seus trabalhadores, remunerar adequadamente e dar boas condições de trabalho. Já para os acionistas e proprietários, na lógica capitalista, é preciso oferecer-lhes lucro. Todavia, não se esgota aí a missão da pessoa jurídica da empresa: ela tem reflexos sobre saúde, segurança, qualidade de vida de pessoas e ao meio ambiente onde opera. E esses valores não podem ser sacrificados em nome do lucro para acionistas ou mesmo do emprego aos trabalhadores e da qualidade do produto ao consumidor.

Para produzir mais ou mais barato ou aumentar a lucratividade, descuidaram da segurança das barragens, atrasaram a introdução de tecnologias mais caras e menos arriscadas.

Soja e ferro são as duas maiores exportações de comódites (commodities) pelo Brasil nos últimos anos. Quando falamos em comódites, referimos produtos em estado bruto, de origem agropecuária ou mineral, com características físicas homogêneas, comercializados em larga escala mundial a preços regulados no mercado internacional. Ou seja, produzimos bastante e vendemos para que outros agreguem valor através da indústria de transformação na nossa matéria-prima.

O tamanho da tragédia de Brumadinho está causando efeito impensável: paralisar algumas minas para modificar a tecnologia no trato dos rejeitos. Ou seja, perda de lucro e até de empregos, queda na balança comercial brasileira em relação ao volume de ferro exportado. A iniciativa privada poderia ter sido mais cautelosa antes.

Ocorre-me comparar com a soja. É perceptível que estamos aprofundando um modelo produtivo de alto custo em aspectos humanos e ambientais. A elevadíssima produtividade está atrelada a sementes geradas por companhias que as vinculam ao uso de determinados defensivos de grande impacto. A morte de milhares de abelhas, os efeitos sobre outras culturas como a uva, a maçã e a oliveira, são alertas de tragédias anunciadas que amanhã vamos lamentar. A iniciativa privada agropecuária, como a da mineração, precisa ter a responsabilidade social de refletir que é possível produzir com menor risco à sociedade e ao ambiente.



Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

OPINIÃO: Uma nova Previdência para todos ou para ninguém Anterior

OPINIÃO: Uma nova Previdência para todos ou para ninguém

OPINIÃO: Só sei que nada sei Próximo

OPINIÃO: Só sei que nada sei

Colunistas do Impresso